Embora vivamos o século XXI, respirando os ares do Terceiro Milênio, os preconceitos de séculos anteriormente vividos acompanham muitos de nós.
Habitualmente, dizemos que não temos preconceito. Contudo, nas coisas pequenas, vamos verificando que sombras dele persistem em nós.
Por exemplo, quando se menciona um homem de bem. Idealizamos que deva ser um ser quase perfeito.
Dessa forma, quando olhamos para quem viaja pelo mundo, que frequenta as altas rodas sociais, que aprecia festas e lugares ruidosos, sequer cogitamos que possa ser uma dessas criaturas.
Recordamos do grande e um tanto esquecido brasileiro Luís Martins de Souza Dantas.
Com uma larga folha de serviços, assumiu a chefia da Embaixada Brasileira em Paris, em dezembro de 1922 permanecendo até 1944.
Paris era a capital política e intelectual do mundo. Souza Dantas gostava da noite, participava e promovia jantares e festas, era o que se pode chamar de bon vivant.
Por isso, ninguém poderia imaginar o que fazia, além do seu dever.
Ele transitava com muita facilidade por vários países, era amigo de reis e rainhas, de jornalistas, empresários, intelectuais, artistas.
Mas, andava, também, entre os mais pobres, os mais necessitados.
Foi considerado um dos mais importantes e competentes embaixadores brasileiros de seu tempo.
Sua vida diplomática esteve pautada em apaziguar questões nevrálgicas, em negociar empréstimos, lutou por salvaguardar os direitos dos brasileiros no Tratado de Versalhes.
Diziam que ele não era o embaixador importante e burocrata, era o irmão zeloso, cheio de cuidados e interesse, para o mais simples caso até o mais complicado.
Nas décadas de 1930 e 1940, como embaixador em Paris, concedeu mais de oitocentos vistos de entrada no Brasil a judeus e outros perseguidos pelo regime nazista, contrariando ordens expressas das circulares secretas do Presidente.
Ele colocou em risco sua vida e sua carreira, em nome do que acreditava ser o correto: auxiliar àqueles que o buscavam.
Assim procedeu até a Embaixada Brasileira ser invadida, vindo a sofrer sanções por parte dos alemães e se tornou alvo de um inquérito administrativo do Itamaraty.
Às vésperas de deixar Paris, Souza Dantas visitou várias pessoas a quem ajudava, em sigilo, regularmente, entregando-lhes uma quantia de dinheiro um pouco maior do que a habitual, considerando os tempos difíceis e que ele não estaria mais ali.
Seu nome se encontra no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
É um prêmio de reconhecimento a todos os não judeus que, durante a Segunda Guerra Mundial, salvaram vidas de judeus perseguidos pelo regime nazista.
Quando morreu, em 16 de abril de 1954, no seu inventário listava poucos bens.
Vivia de sua aposentadoria, usou tudo o que tinha para auxiliar o próximo.
Eis aí um homem de bem e que, conforme a orientação evangélica, praticava seus benefícios sem alarde.
A mão esquerda não sabia o que fazia a direita.
Redação do Momento Espírita
Nenhum comentário:
Postar um comentário