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terça-feira, 23 de julho de 2019

Triste realidade😔😔


"No final da tarde fria, recebo a visita inesperada dos meus dois filhos. Um médico, outro engenheiro. Ambos bem sucedidos em suas profissÔes. Faz menos de uma semana da morte da minha mulher. Ainda me sinto abatido pela perda que mudou os rumos e o sentido da vida para mim.
Sentados à mesa da sala da casa simples, onde moro agora sozinho, começamos a conversar. O assunto é sobre o meu futuro.
Um frio me percorre a espinha. Logo tentando me convencer de que o melhor para mim Ă© passar a viver num lar geriĂĄtrico. Reajo. Argumento que a sombra da solidĂŁo nĂŁo me assusta. A velhice, muito menos. Mas, meus filhos insistem. Dizem que gostariam que eu fosse morar com um ou outro. Lamentam, entretanto, que as dependĂȘncias de seus amplos apartamentos Ă  beira-mar estejam ocupadas. AlĂ©m disso, eles e minhas noras trabalham os dois expedientes. Portanto, nĂŁo teriam como me assistir. Isso sem contar com os meus netos, sempre impossĂ­veis.
Em meu favor, argumento jĂĄ sem muita convicção que, nesse caso, eles bem que poderiam me ajudar a pagar uma cuidadora. À minha frente, o mĂ©dico e o engenheiro dizem que seriam necessĂĄrias, na verdade, trĂȘs cuidadoras em trĂȘs turnos e todas com carteira assinada. O que gastaria, em tempos de crise, uma pequena fortuna ao fim de cada mĂȘs. Sucumbo Ă  proposta de ir viver num abrigo. AĂ­ vem outra sugestĂŁo: preciso vender a casa. O dinheiro servirĂĄ para pagar as despesas do lar geriĂĄtrico por um bom tempo, sem que ninguĂ©m se preocupe. Nem eles, nem eu.
Rendo-me aos argumentos por não ter mais forças de enfrentar tanta ingratidão. Não falo sobre o sacrifício que fiz durante toda a vida para custear os estudos de ambos. Não digo que deixei de viajar com a família a passeio, de frequentar bons restaurantes, de ir a um teatro ou trocar de carro para que nada faltasse a eles. Não valeria a pena alegar tais fatos a essa altura da conversa. Daí, sem dizer uma só palavra, decido juntar meus pertences. Em pouco tempo, vejo uma vida inteira resumida a duas malas. Com elas, embarco rumo à outra realidade, bem mais dura. Um abrigo de idosos, longe dos filhos e dos netos.
Hoje, nos braços da solidão, reconheço que consegui ensinar valores morais aos meus filhos. Mas não consegui transmitir a nenhum dos dois uma virtude chamada gratidão..."

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