segunda-feira, 29 de abril de 2019
A linha de chegada
Entre setembro de 1968 e janeiro de 1969, um desenho criado pela Hanna-Barbera foi transmitido originalmente pelo canal CBS, nos Estados Unidos.
Também teve sua transmissão no Brasil, em mais de um canal televisivo. Chamava-se Corrida maluca.
Eram onze veículos estranhos com ocupantes ainda mais estranhos que iam de um dragão que cuspia fogo a um urso chorão, de uma quadrilha de morte aos irmãos Rocha, Pedra e Cascalho.
A competição era pelo título mundial de corredor mais louco do mundo, em um rally pela América do Norte.
A inspiração para a criação da animação veio de um filme chamado A corrida do século, de 1965.
Nele havia uma personagem chamada Maggie Dubois, que foi transformada na Penélope Charmosa, e um professor chamado Fate, que deu origem ao vilão Dick Vigarista.
Esse vilão, a cada corrida, tinha uma preocupação principal: criar obstáculos para que os concorrentes não cruzassem a linha de chegada.
Assim, esmerava-se em montar armadilhas, ao longo do trajeto. Com um detalhe, o seu ajudante, Mutley, costumava fazer sempre alguma coisa errada, na hora de colocar o plano em prática.
Como resultado, a cada episódio, Dick Vigarista acabava provando de seu próprio mal.
Apesar de ser uma competição, não foi feito um episódio final contando quem foi o grande vencedor.
No entanto, algo ficou bem evidenciado em cada um dos circuitos que foram ao ar: Dick Vigarista nunca ganhou uma corrida.
Era tanta armação e tantos problemas que ele tentava criar para os outros, que nunca conseguiu cruzar a linha de chegada, em primeiro lugar.
A animação teve uma única temporada, de dezessete capítulos, divididos em trinta e quatro segmentos. Foi retirada do ar, porque os pais, à época, estavam preocupados com a violência apresentada para as mentes infantis.
* * *
Como de tudo na vida nos compete retirar as lições para nós próprios, não poderia ser de outra forma, ao enfocarmos a corrida maluca.
Quantos de nós seremos como Dick Vigarista, preocupados em criar obstáculos aos outros para que não alcancem os objetivos traçados, sejam eles um concurso, uma competição?
Não nos surpreendemos, por vezes, em jogos que deveriam ser somente para nos distrair, em horas de lazer, elaborando formas desonestas de impedir a vitória do outro?
Quantos de nós estaremos mais preocupados com o que fazem os demais, esquecendo de atentar para o que nos compete realizar, alcançar?
Quantos invejamos o carro novo do vizinho, a festa espetacular do conhecido, a casa do colega transformada em mansão, depois de uma reforma?
Quantos nos detemos a comentar o que faz ou deixa de fazer o nosso semelhante, sem nos darmos conta do tempo precioso que estamos perdendo?
Tempo que melhor seria empregado no esforço de observação de nós mesmos, das nossas necessidades, do que devemos empreender para alcançarmos nossos objetivos.
Afinal, o que nos deve importar não é impedir que outros tenham êxito, mas nos esforçarmos para cruzar a linha de chegada.
O importante, dessa forma, é nos preocuparmos conosco mesmos, com nosso desempenho, no intuito de alcançar aquilo a que nos propomos.
Pensemos a respeito.
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