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sábado, 26 de janeiro de 2019

A VIDA COTIDIANA E O FOCO NO RESULTADO Clovis Barros e Mário S. Cortella

A VIDA COTIDIANA E O FOCO NO RESULTADO
Clovis Barros e Mário S. Cortella

Não se sabe quando e onde as ideias sobre valores começaram a fazer parte da sociedade. O que se sabe é que desde tempos remotos, existem valores que são como diretrizes na vida social.

Os valores são, assim, fatos socialmente ontológicos.

Não é raro, ao se visitar grandes empresas, encontrar algum banner institucional com uma lista de valores que a instituição escolheu. No geral, alguns trazem palavras como: “Trabalho com honestidade”, “... com transparência”, “... com ética”, e, invariavelmente, “... com foco no resultado” .

O interessante é que, se o foco está no resultado, todo o mais resta anulável.

Se o oftalmologista diz para você: “Foque a terceira letra”, todas as outras letras existentes perdem a relevância – ainda que estejam alí.

Toda vez que se coloca o foco em algo, o restante fica descaracterizado, diminuído, flexibilizável.

Na situação hipotética de uma empresa. Em existindo possibilidade de conflito entre qualquer valor e o valor resultado, a determinação institucional é óbvia: o foco é no resultado.

E isso significa o quê?

Significa que é aceitável [desde que o outro não saiba] fazer o que for preciso para se obter o resultado, mesmo que isso implique mentir um pouquinho, enganar um pouquinho, ludibriar um pouquinho, e assim por diante.

Existe até um lema popular bastante difundido no meio empresarial e na conjuntura social, como um todo: “Fazemos qualquer negócio!”.

Diante dessa lógica, é possível que o mercado sempre opte pelo resultado, em prejuízo de qualquer outro valor.

Isso está tão impregnado na vida social, que se aplica, também, ao ambiente estudantil.

Na minha experiência como aluno, eu me sentia feliz e honrado por tirar 5,0 ao invés de 9,5, tirado por colegas que colavam. Isso porque o valor ético, para comigo mesmo, não estava centrado no resultado. Mas tive, sim, colegas que encontravam justificativa no resultado. E muitos diziam: “Quem não cola, não sai da escola”.

Em outras palavras, ao usar a cola o aluno está focado no resultado. Foca uma coisa, e se desfoca de outras.

Fazendo um bom trocadilho da área de filosofia, quando nosso foco está no resultado, não temos ilusão de ótica, mas sim de ética.


Clóvis de Barros Filho (Escritor; Professor da Universidade de São Paulo - USP)

Mário Sergio Cortella (Escritor; Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP)

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