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terça-feira, 31 de agosto de 2010

METADE - Oswaldo Montenegro



Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito

Mas a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe

Seja linda, ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo

Seja pra sempre amada

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece

Nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas

Como a única coisa

Que resta a um homem

Inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma

E na paz que eu mereço

E que essa tensão

Que me corroe por dentro

Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que penso

Mas a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste

E que o convívio comigo mesmo

Se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita

Em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim

É a lembrança do que fui

A outra metade eu não sei

Que não seja preciso

Mais do que uma simples alegria

Para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio

Me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade

Para fazê-la florescer
 
Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção

E que a minha loucura

Seja perdoada

Porque metade de mim

É amor

E a outra metade

Também