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domingo, 5 de junho de 2011

Eterno - Drummond

E como ficou chato ser moderno.

Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!

O Padre Eterno,

a vida eterna,

o fogo eterno.
 

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)
 
— O que é eterno, Yayá Lindinha?

— Ingrato! é o amor que te tenho.


Eternalidade eternite eternaltivamente

eternuávamos

eternissíssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

 
Eterna é a flor que se fana

se soube florir

é o menino recém-nascido

antes que lhe dêem nome

e lhe comuniquem o sentimento do efêmero

é o gesto de enlaçar e beijar

na visita do amor às almas

eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo

mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma

[força o resgata

é minha mãe em mim que a estou pensando

de tanto que a perdi de não pensá-la

é o que se pensa em nós se estamos loucos

é tudo que passou, porque passou

é tudo que não passa, pois não houve

eternas as palavras, eternos os pensamentos; e

[passageiras as obras.

Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um

[mar profundo.

Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos

[afundamos.

É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.

O relógio no pulso é nosso confidente.



Mas eu não quero ser senão eterno.

Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma

[essência

ou nem isso.

E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde

[pousou uma sombra

e que não fique o chão nem fique a sombra

mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma

[esponja no caos

e entre oceanos de nada

gere um ritmo.





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