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sexta-feira, 29 de março de 2019
A feliz aposentadoria
Um leve toque...
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Convite à juventude
Narra-se que, entre a Judeia e a Síria, na cidade de Sebastes, também chamada a Rainha do Ponto, pelos anos trezentos, quarenta jovens deram sua vida por amor à verdade.
Eram todos legionários e cristãos. Recrutados pelas ordens romanas.
Vestiam os uniformes, os capacetes e as capas vermelhas. Em seus corações, porém, serviam a Jesus, e somente a Ele.
Muito antes que as vozes de Roma se fizessem ouvir, nas ordens de recrutamento, eles haviam acedido, vindos de variadas partes do globo, à doce voz do Rabi Galileu.
Porque as perseguições se fizessem intensas, reuniam-se às escondidas em local ermo e abandonado.
Após o recrutamento, raramente podiam estar todos juntos, ao mesmo tempo, pois que diferentes eram os dias das suas folgas.
Mas não descuidavam do estudo dos ditos do Senhor e dos Atos dos Apóstolos, das Epístolas de Pedro e Paulo.
Serviam na Décima Segunda Legião todos eles.
Um dia, uma denúncia anônima os colocou frente a um teste terrível.
Para salvar suas vidas deveriam oferecer sacrifícios ao deus Júpiter. Porque se recusassem, receberiam a pena máxima.
Desejosos seus superiores que suas mortes servissem de lição a outros ou quem sabe, com o intuito de que fraquejassem e voltassem atrás em sua decisão, escolheram uma forma lenta de agonia para eles.
Foram conduzidos até a beira de um lago, cujas águas frias tornavam-se geladas nas noites de inverno.
Ao som dos tambores, os quarenta jovens perfilados, robustos na sua fé, avançaram para o lago. A água foi lhes chegando às virilhas, depois às cinturas, finalmente aos ombros.
Foram horas e horas de imersão nas águas negras e salgadas. A chama da fé os aquecia ao ponto de cantarem.
E o canto era como uma cascata de esperanças feita em sons de ternura e renúncia.
Na madrugada, um a um, eles foram morrendo, hirtos de frio, congelados.
* * *
Lembrando os legionários, heróis da fé, recordamos da mocidade dos dias atuais.
Observando tantos moços a descerem pelas ladeiras escuras do vício e da desesperança, pensamos na mensagem do Cristo que se dirige, esperançosa e viva a todos os homens.
Muito poderiam esses jovens, se portassem Jesus em suas vidas, desde que dispõem da agilidade mental, do vigor físico, de energias!
Crescer para a luz, e na sua ascensão, arrastar outros tantos, pois toda vez que um homem se ergue no mundo, centenas se erguem com ele.
* * *
Jovem! Ouve a mensagem de Jesus que te chega, límpida e pura e afeiçoa-te ao bem.
Não permitas que passe o tempo e fujam as horas. Enquanto a juventude canta em teu corpo, estuda e trabalha. Executa tarefas no bem, semeia luzes em tuas veredas.
Mais tarde, as haverás de perceber como estrelas luminescentes que aclararão os dias da tua madureza e da tua velhice.
A lição das gaivotas
Um enorme transatlântico partiu de movimentado porto rumo a outro continente. Do convés, os passageiros acenavam lenços e agitavam mãos, em manifestações de adeuses.
No porto, muitas pessoas acenavam igualmente e lançavam beijos ao ar, num misto de antecipada saudade e carinho.
Pouco depois, os que se encontravam no convés, ainda observando os que permaneciam em terra, puderam constatar uma nuvem de gaivotas prateadas acompanhando o imenso navio.
O seu voo atraiu a atenção de quase todos, tanto pela algazarra que promoviam, quanto pelo capricho de suas voltas, ao redor da enorme máquina concebida pelo homem.
Passada uma meia hora de viagem, o tempo se tornou ameaçador. Ondas de espuma se levantavam ao açoitar dos ventos violentos.
Esboçou-se no firmamento uma tremenda tempestade. Com suas possantes máquinas, o navio cortava as vagas agitadas e parecia fazê-lo com dificuldade, dada a presença dos elementos da natureza em convulsão.
Um dos poucos viajantes que até então permanecia no tombadilho, contemplou as aves a voejar e as lastimou.
Como podiam elas, com suas asas tão débeis, lutar contra o tufão, desamparadas nos céus? Elas nada tinham além do próprio corpo para enfrentá-lo.
Suas asas resistiriam ao vento implacável, se o possante navio, com suas máquinas que representam milhares de cavalos resistia com dificuldade ao tempo torrencial?
De repente, aquele homem que estava tão compadecido das avezinhas do mar, ficou perplexo. É que as pequenas gaivotas, estendendo as asas que Deus lhes deu abandonaram o navio na tempestade e se ergueram acima da tormenta, passando a voar numa região serena dos ares.
E a máquina, representando a ciência humana, prosseguiu na sua luta penosa para resistir à fúria dos elementos.
* * *
Em nossas vidas ocorre de forma semelhante. Quando pretendemos lutar unicamente com nossos próprios meios, encontramos o fustigar dos ventos das dificuldades atrozes, que vergastam a alma e maceram o corpo.
Contudo, se utilizarmos os recursos da oração alcançaremos as possibilidades das asas das gaivotas.
Pelas asas poderosas da prece, o homem pode se elevar acima das tempestades do cotidiano e voar placidamente.
Envolvidos pelas luzes da prece, alcançaremos regiões que o vendaval das paixões inferiores não alcança.
Fortificados pela oração, enfrentaremos o mar agitado dos problemas, a fúria das vicissitudes, e chegaremos ao porto seguro que todos almejamos.
* * *
Quando o triunfo nos alcançar ou quando sofrermos aparentes quedas, busquemos Jesus e falemos sem palavras ao Seu coração de Mestre e Amigo.
Condutor vigilante de nossas almas, Ele assumirá o leme da frágil embarcação das nossas vidas, permitindo-nos singrar o mar agitado das nossas dores, com coragem e segurança.
A medida ideal será sempre orar antes de agir, a fim de evitar que procedamos de forma imprevidente, o que nos conduziria ao desespero e a maior soma de dores.
O que faz uma vida feliz
A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, tem o que é considerado o estudo mais longo acerca da felicidade.
O Harvard Study of Adult Development existe desde 1938 e observou, desde então, a vida de setecentos e vinte e quatro jovens. Acompanhou seu crescimento, suas famílias e as novas gerações.
O estudo abrange diversas áreas, mas a principal delas diz respeito à análise do nível de felicidade dessas pessoas.
As observações minuciosas buscaram responder à questão: O que faz uma vida feliz?
E as principais conclusões foram as seguintes: conexões sociais são muito boas para nós, enquanto a solidão mata.
As pessoas que são mais conectadas socialmente, à família, amigos e comunidade, são mais felizes, são fisicamente mais saudáveis e vivem mais.
Não se trata apenas do número de pessoas à volta, do número de amigos que têm, ou se estão num relacionamento sério ou não, mas, principalmente, da qualidade dos relacionamentos mais próximos.
O estudo também concluiu que os bons relacionamentos não protegem apenas nossos corpos, mas também nosso cérebro.
As pessoas que mantêm bons relacionamentos, sobretudo quando estão em avançada idade, têm sua memória melhor preservada, isto é, ela se mantém viva por mais tempo.
O diretor atual da pesquisa, Robert Waldinger, afirma que essas relações não precisam ser perfeitas, onde só reine a paz, sem problemas ou discussões.
Não, o que mais importa, segundo ele, é o fato de um saber que pode contar com o outro. E que esses pequenos problemas do dia a dia não se fixam na memória. As relações em si sempre falarão mais alto.
* * *
O homem deve progredir, mas não pode fazer isso sozinho porque não dispõe de todas as faculdades. Por isso precisa se relacionar com outros. No isolamento, se embrutece e se enfraquece.
Nenhum ser humano possui todos os conhecimentos. Pelas relações sociais é que se completam uns aos outros para assegurar seu bem-estar e progredir.
Tendo necessidade uns dos outros, somos feitos para viver em sociedade e não isolados.
Desses laços, os familiares são aqueles que representam os de maior importância, pois muitos deles são escolhidos ou aceitos num planejamento prévio de cada nova encarnação.
Isso quer dizer que podemos escolher em que lar iremos nascer, se tivermos merecimento e discernimento para tal. O que acontece, para a maioria de nós, é uma escolha por necessidade, isto é, precisamos estar vinculados a esse ou aquele lar por compromissos anteriores.
Pensando assim, a felicidade nas relações sociais na família poderá ter dupla causa: a primeira está no próprio laço em si, que nos faz mais felizes por poder contar com amores ao nosso lado.
A segunda, pela chance de podermos resgatar débitos do passado, de ajudar quem prejudicamos e, em muitos casos, como missões, auxiliar Espíritos que vêm à Terra em condições precárias, necessitando de orientação e amorosidade.
O que faz uma vida feliz? Viver boas relações em que se possa doar, mais do que receber. Amar, acima de tudo.
A mais nobre profissão
Qual será a profissão mais nobre? Quem será mais importante: o médico que salva vidas ou o motorista do coletivo que conduz centenas de passageiros, todos os dias, em segurança?
Quem terá maiores méritos perante a Divindade? O professor que ensina à criança as primeiras letras, descortinando-lhe o mundo encantado do alfabeto ou o professor universitário que prepara os jovens para o mercado de trabalho, para a sociedade, ensinando-os com a própria experiência?
Analisando as tantas profissões que existem no mundo, conclui-se que nenhuma pode ser descartada.
Senão vejamos: o escritor utiliza dos seus recursos e escreve livros que renovam o pensamento do mundo.
A sua é a possibilidade de encantar, de proporcionar viagens fantásticas pela imaginação, de utilizar sabedoria, arte e beleza, dentro da vida.
Contudo, uma vassoura simples faz a alegria da limpeza. E, sem limpeza, o poeta não consegue trabalhar.
As máquinas agrícolas abrem sulcos profundos na terra, revolvendo-a e a preparam para o plantio. Logo mais, as linhas que ela traça no solo transbordarão de milho, arroz, batata, trigo, enchendo os celeiros e as mesas.
O marceneiro trabalha com cuidado a madeira e lhe confere formas que cooperam na construção do lar.
O pedreiro ergue muros, coloca alicerces para os edifícios grandiosos. Organiza o seu pensamento e os seus esforços e faz surgir obras fenomenais.
Mas por mais belo que seja o edifício, os seus mármores, cristais, tapetes luxuosos, não dispensarão a mão amiga da faxineira que lhes dará brilho.
Os magistrados usam a pena e a justiça e sentenciam. Das suas sentenças dependem vidas. Vidas que prosseguirão a ter alegrias ou se encherão de tristezas.
Os políticos orientam e governam, elaboram leis e as votam, decidindo o que seja melhor para o povo.
Entretanto, todos eles necessitam das mãos hábeis que conduzem as máquinas que lhes tecem as roupas que os defendem do frio.
Se os juízes se reúnem nas mesas de paz e justiça, os lavradores e agricultores são os que lhes ofertam os recursos para as refeições.
Ninguém suponha que, perante Deus, os grandes homens sejam somente aqueles que usam a autoridade intelectual.
Que seria da Humanidade se, de repente, não tivéssemos mais cozinheiros, recepcionistas, lavadeiras, arrumadeiras, babás?
Que faríamos sem essa gama enorme de servidores da Humanidade?
* * *
Todos somos chamados a servir, na obra do Senhor, de maneira diferente.
Cada trabalhador, em seu campo de ação, pode se considerar honrado pelo bem que possa produzir. Cada empregador ou empregado nos convençamos de que a maior homenagem que podemos prestar ao Criador é a correta execução do nosso dever, onde estivermos.
A magia do convívio
Na atualidade, vivemos um tanto distantes uns dos outros. Pode soar paradoxal, mas quando temos tantas formas de comunicação, em tempo real, andamos muito distanciados.
Em se falando das crianças, por exemplo, constatamos que a maioria delas usa tanto a internet que mal tem tempo para brincar.
Os menores dizem que usam o celular até mesmo durante as refeições ou em outros momentos familiares.
Exatamente naqueles períodos quando todos poderiam esquecer um pouco os celulares para uma saudável conversa olho no olho.
Buscando o equilíbrio no uso da tecnologia para melhorar os relacionamentos familiares, algumas instituições religiosas se reuniram para uma ação conjunta.
Num encontro com participantes de variadas idades, uma educadora e também contadora de histórias abordou o tema, de tal forma inteligente, que a todos envolveu.
Depois, ela propôs a divisão em duplas para que um falasse ao outro a respeito de si mesmo.
Foi aí que surgiram maravilhosas descobertas.
Uma mãe narrou, encantada, que acabara de descobrir verdadeiros segredos de sua filha adolescente. Coisas que ela nunca havia lhe contado antes.
Por sua vez, a garota se dizia feliz por ter sabido coisas muito interessantes sobre a vida da sua mãe. E o que a espantou foi descobrir que sua mãe adorava dançar, como ela própria.
Uma garotinha de sete anos descobriu que o prato predileto de sua prima, com quem costuma brincar, diariamente, é lasanha. Como nunca soubera disso?
Agora, quando ela fosse brincar na sua casa, ela pediria para sua mãe providenciar aquele prato para a prima.
Duas adolescentes, que se conheciam, de longe, por frequentarem a mesma escola, se surpreenderam, ao se descobrirem ali, adeptas da mesma religião.
E, na conversa, se deram conta de que tinham medos em comum, gostavam das mesmas músicas e do mesmo gênero de filmes.
Bonito mesmo foi testemunhar uma dupla de uma senhora de terceira idade e um garotinho de oito anos. Ele ficou muito interessado ao saber que ela havia nascido no mesmo país do seu avô. E fez muitas, muitas perguntas.
E assim foram descobertas e mais descobertas durante aquelas três horas de programação. Foi uma clara demonstração de que a convivência com o outro pode reservar lindas surpresas.
Por fim, deixou claro que se pudermos ficar algum tempo sem consultar o celular poderemos ter uma conexão bem mais profunda e real com outras pessoas.
E esse contato poderá nos revelar riquezas pessoais dos que vivem em nosso entorno.
Pessoas com as quais estamos todos os dias, lado a lado, mas, habitualmente, não conversamos, não trocamos ideias, não nos revelamos mutuamente.
Fica aí a sugestão. Que tal, neste novo ano que ainda está despertando, nos propormos a algumas pausas na tecnologia, nos desligarmos em certos momentos do celular, olhar para o lado e dizer: Oi, tudo bem com você?
Será somente o início da redescoberta da alegria de falarmos olhando um no olho do outro, apertando a mão, trocando abraços.
A magia do convívio.
Ressignificação
A vida nos surpreende diariamente com acontecimentos que nos desagradam.
Desde pequenos incômodos, coisas que não saíram como esperávamos ou do exato jeito que queríamos, passando pelas reprovações, não aceitações, os muitos nãos aqui e ali, até grandes sofrimentos que mudarão o curso de nossa existência.
Com isso vem o desafio: Como lidar com essas surpresas sempre desagradáveis, pelo menos num aparente primeiro olhar?
Percebamos uma característica nossa, muito frágil, que precisa ser reformada: nossa inabilidade em lidar com o inesperado.
Criamos expectativas baseadas em nossas vontades, em nossos desejos, por mais absurdos que sejam, e saímos por aí, como se o mundo tivesse obrigação de nos atender.
Dificilmente estamos abertos ao novo, ao imprevisível, a deixar de querer ter controle sobre tudo e sobre todos.
Muitos ainda temos essa ilusão de que podemos controlar tudo. E os dias difíceis nos mostram que não é bem assim que funciona...
Tão logo deixemos de ter toda essa prepotência, essa pretensão, ou até ingenuidade, começamos a receber os acontecimentos da vida de uma forma mais inteligente.
Isso ou aquilo não aconteceu como queríamos ou como planejamos? Mas, será que nosso querer estava certo? Teremos planejado da melhor forma? Será que de outro jeito não seria melhor para nós?
Descemos de nosso patamar de controladores, conquistamos um pouco de humildade e seguimos adiante dando novo significado a tais coisas.
Essa é uma das nuances da virtude da resignação. Se observarmos a palavra mais de perto, perceberemos que ela é formada por re – signo – ação, isto é, a ação de dar novo significado a algo, ou, a ressignificação.
Notemos que não se trata de uma virtude comodista, passiva, de apenas aceitar o que nos acontece sem murmúrio, reclamação.
Ela é dinâmica, porque quando ressignificamos algo tomamos atitudes, caminhos, passamos a agir de nova forma.
Resignação é força da alma, o consentimento do coração corajoso, que resolve enfrentar o que quer que seja, entendendo seu significado redentor na vida.
* * *
Ser resignado significa podermos carregar o fardo das provas que a revolta insensata não suporta.
Ser resignado significa sofrermos buscando entender porque sofremos, ou melhor, para que sofremos, encontrando em cada obstáculo da vida uma oportunidade.
Ser resignado é pensarmos adiante e não nos permitirmos escravizar pelo presente, muitas vezes em desacordo com nossos desejos imediatistas.
Ser resignado é estarmos em paz conosco mesmo e com as leis divinas, que apenas nos educam para a melhor estabilidade do nosso amanhã.
Dessa forma, submetamo-nos, paciente, resignadamente às situações atuais e, insistindo nos bons propósitos, construamos o porvir de bênçãos que ainda não podemos fruir.
Desde pequenos incômodos, coisas que não saíram como esperávamos ou do exato jeito que queríamos, passando pelas reprovações, não aceitações, os muitos nãos aqui e ali, até grandes sofrimentos que mudarão o curso de nossa existência.
Com isso vem o desafio: Como lidar com essas surpresas sempre desagradáveis, pelo menos num aparente primeiro olhar?
Percebamos uma característica nossa, muito frágil, que precisa ser reformada: nossa inabilidade em lidar com o inesperado.
Criamos expectativas baseadas em nossas vontades, em nossos desejos, por mais absurdos que sejam, e saímos por aí, como se o mundo tivesse obrigação de nos atender.
Dificilmente estamos abertos ao novo, ao imprevisível, a deixar de querer ter controle sobre tudo e sobre todos.
Muitos ainda temos essa ilusão de que podemos controlar tudo. E os dias difíceis nos mostram que não é bem assim que funciona...
Tão logo deixemos de ter toda essa prepotência, essa pretensão, ou até ingenuidade, começamos a receber os acontecimentos da vida de uma forma mais inteligente.
Isso ou aquilo não aconteceu como queríamos ou como planejamos? Mas, será que nosso querer estava certo? Teremos planejado da melhor forma? Será que de outro jeito não seria melhor para nós?
Descemos de nosso patamar de controladores, conquistamos um pouco de humildade e seguimos adiante dando novo significado a tais coisas.
Essa é uma das nuances da virtude da resignação. Se observarmos a palavra mais de perto, perceberemos que ela é formada por re – signo – ação, isto é, a ação de dar novo significado a algo, ou, a ressignificação.
Notemos que não se trata de uma virtude comodista, passiva, de apenas aceitar o que nos acontece sem murmúrio, reclamação.
Ela é dinâmica, porque quando ressignificamos algo tomamos atitudes, caminhos, passamos a agir de nova forma.
Resignação é força da alma, o consentimento do coração corajoso, que resolve enfrentar o que quer que seja, entendendo seu significado redentor na vida.
* * *
Ser resignado significa podermos carregar o fardo das provas que a revolta insensata não suporta.
Ser resignado significa sofrermos buscando entender porque sofremos, ou melhor, para que sofremos, encontrando em cada obstáculo da vida uma oportunidade.
Ser resignado é pensarmos adiante e não nos permitirmos escravizar pelo presente, muitas vezes em desacordo com nossos desejos imediatistas.
Ser resignado é estarmos em paz conosco mesmo e com as leis divinas, que apenas nos educam para a melhor estabilidade do nosso amanhã.
Dessa forma, submetamo-nos, paciente, resignadamente às situações atuais e, insistindo nos bons propósitos, construamos o porvir de bênçãos que ainda não podemos fruir.
Possuímos nós alguma coisa?
Se nós não sabemos o que somos, como sabemos o que possuímos? Possuímos nós alguma coisa?
O pensamento desassossegado do poeta Fernando Pessoa nos convida a fundamental reflexão.
No mundo onde possuir as coisas ainda é tão importante, onde usamos com tanta frequência os pronomes possessivos, é desafiador pensar o contrário.
Minha casa, meu carro, minhas roupas, meu dinheiro e aí vai, passando pelos meus filhos, minha esposa, meu marido etc.
O ser humano ainda tem essa necessidade intensa da posse. Trazemos isso do primarismo da alma, dos tempos em que o ter era questão de sobrevivência.
Hoje não somos mais primitivos. Descobrimos que a alma é imortal. Que somos Espíritos vestindo um corpo transitório num planeta transitório.
Cada vez que nos vinculamos a um novo corpo trazemos apenas a inteligência e a moralidade previamente conquistadas.
E cada vez que nos desvinculamos dessa vestimenta física, através do fenômeno natural da morte, levamos conosco exatamente o mesmo.
Tudo que consideramos posse, fica. Vai para outros, muda de mãos, pois nos serviu por determinado tempo e agora deverá servir a outros.
E é assim que deveríamos enxergar os bens da Terra. Eles nos servem por um tempo, nos servem para algum propósito maior. Não têm finalidade em si mesmos. São instrumentos.
De forma alguma propomos o extremo oposto, o do menosprezo desses recursos. Todo fruto do trabalho honesto é merecido. Podemos e devemos usufruir desses resultados durante a vida.
A questão está no foco. Viver para ter ou ter para viver?
Mudando o foco lidamos melhor, inclusive, com as perdas que, em verdade, não são reais. São apenas mudança de mãos, de estado, de momento.
Quando alguém nos toma um bem precioso ou nos faz perder grande quantia de dinheiro, levando-nos à falência, a expressão de que usualmente nos servimos é: O trabalho de tantos anos se perdeu.
Será mesmo? O trabalho não se perde, pois o tesouro está em nós, no que aprendemos, no que enfrentamos, na brava sobrevivência, nos valores construídos ao longo da caminhada.
As posses se vão, mudam de endereço, mas o que nos fez conquistá-las permanece conosco, quando é autêntico, nobre e honesto. Essa é a nossa verdadeira propriedade.
* * *
Quando vamos a um país distante, nossa bagagem é constituída de objetos utilizáveis nesse país; não nos preocupamos com os que ali nos seriam inúteis.
Procedamos do mesmo modo com relação à vida futura: levemos o que lá possamos utilizar.
Ao viajante que chega a um albergue, se pode pagar, bom alojamento lhe é dado. Outro, de poucos recursos, fica em um menos agradável. Quanto ao que nada tenha, vai dormir ao relento.
O mesmo nos sucederá em nossa chegada no mundo dos Espíritos: depende dos nossos haveres o lugar para onde iremos.
Não será, no entanto, com nosso ouro que o pagaremos. Ninguém nos perguntará quanto tínhamos na Terra; que posição ocupávamos; se éramos príncipe ou operário.
Mas, nos perguntarão o que trazemos conosco. Não nos avaliarão os bens, nem os títulos, somente a soma das virtudes que possuamos.
O pensamento desassossegado do poeta Fernando Pessoa nos convida a fundamental reflexão.
No mundo onde possuir as coisas ainda é tão importante, onde usamos com tanta frequência os pronomes possessivos, é desafiador pensar o contrário.
Minha casa, meu carro, minhas roupas, meu dinheiro e aí vai, passando pelos meus filhos, minha esposa, meu marido etc.
O ser humano ainda tem essa necessidade intensa da posse. Trazemos isso do primarismo da alma, dos tempos em que o ter era questão de sobrevivência.
Hoje não somos mais primitivos. Descobrimos que a alma é imortal. Que somos Espíritos vestindo um corpo transitório num planeta transitório.
Cada vez que nos vinculamos a um novo corpo trazemos apenas a inteligência e a moralidade previamente conquistadas.
E cada vez que nos desvinculamos dessa vestimenta física, através do fenômeno natural da morte, levamos conosco exatamente o mesmo.
Tudo que consideramos posse, fica. Vai para outros, muda de mãos, pois nos serviu por determinado tempo e agora deverá servir a outros.
E é assim que deveríamos enxergar os bens da Terra. Eles nos servem por um tempo, nos servem para algum propósito maior. Não têm finalidade em si mesmos. São instrumentos.
De forma alguma propomos o extremo oposto, o do menosprezo desses recursos. Todo fruto do trabalho honesto é merecido. Podemos e devemos usufruir desses resultados durante a vida.
A questão está no foco. Viver para ter ou ter para viver?
Mudando o foco lidamos melhor, inclusive, com as perdas que, em verdade, não são reais. São apenas mudança de mãos, de estado, de momento.
Quando alguém nos toma um bem precioso ou nos faz perder grande quantia de dinheiro, levando-nos à falência, a expressão de que usualmente nos servimos é: O trabalho de tantos anos se perdeu.
Será mesmo? O trabalho não se perde, pois o tesouro está em nós, no que aprendemos, no que enfrentamos, na brava sobrevivência, nos valores construídos ao longo da caminhada.
As posses se vão, mudam de endereço, mas o que nos fez conquistá-las permanece conosco, quando é autêntico, nobre e honesto. Essa é a nossa verdadeira propriedade.
* * *
Quando vamos a um país distante, nossa bagagem é constituída de objetos utilizáveis nesse país; não nos preocupamos com os que ali nos seriam inúteis.
Procedamos do mesmo modo com relação à vida futura: levemos o que lá possamos utilizar.
Ao viajante que chega a um albergue, se pode pagar, bom alojamento lhe é dado. Outro, de poucos recursos, fica em um menos agradável. Quanto ao que nada tenha, vai dormir ao relento.
O mesmo nos sucederá em nossa chegada no mundo dos Espíritos: depende dos nossos haveres o lugar para onde iremos.
Não será, no entanto, com nosso ouro que o pagaremos. Ninguém nos perguntará quanto tínhamos na Terra; que posição ocupávamos; se éramos príncipe ou operário.
Mas, nos perguntarão o que trazemos conosco. Não nos avaliarão os bens, nem os títulos, somente a soma das virtudes que possuamos.
Um leve toque...
Nós a vimos na rua, com seu carrinho de madeira carregado de material reciclável, onde se sobressaía uma elevada carga de papelão.
Ficamos a imaginar o peso de tudo aquilo. Também pensamos na destreza, para conduzir aquele transporte, em meio ao trânsito intenso da capital curitibana.
No entanto, o que nos chamou mesmo a atenção foi a atitude daquela mulher.
A manhã apenas iniciara e ela aparentava ter dormido ao relento. Contudo, como se estivesse em sua casa, dispôs-se a fazer sua toalete.
Sentou-se na beira de um pequeno canteiro de flores, no meio da calçada.
Num canto do carrinho ela suspendeu um espelho minúsculo e nele ficou se olhando, cuidadosamente.
Ajeitou o cabelo para trás, apalpou as bochechas, passou a mão pelos olhos, pelas sobrancelhas, como se estivesse em delicado processo de maquiagem.
Passamos lentamente por ela e a admiramos.
Aquela mulher puxando aquele carrinho, utilizando muita força, tinha uma autoestima elevada.
Desejava estar bem, apresentar-se arrumada a quem a encontrasse pelas ruas.
Cuidado pessoal, atenção com sua aparência.
E nos recordamos de um fato narrado por uma sobrevivente holandesa dos campos de concentração alemães.
Em suas memórias, narra que, chegando ao campo de Birkenau, foi colocada em quarentena, em um tipo de galpão, junto a outras mulheres, das mais diversas nacionalidades: russas, italianas, norueguesas, holandesas e dinamarquesas.
Mas foram as francesas que lhe proporcionaram algo muito positivo. Naquele local desumano, em que os nazistas desejavam simplesmente acabar com a dignidade das pessoas, ela as viu encontrarem um pedaço de vidro espelhado e um pequeno pente com três dentes.
Com isso, elas penteavam as sobrancelhas. Depois, prendiam pedaços de pano, na cabeça, à semelhança de lenço, tornavam a se olhar naquele espelho improvisado para conferir se ainda estavam minimamente elegantes.
Essas francesas, que arrumavam as sobrancelhas e escondiam a cabeça totalmente raspada, simplesmente para ter uma aparência melhor, em meio ao caos daquele local, afirmavam sua força em não desistir de sua humanidade. Não ceder à pressão de fora para se desumanizar.
* * *
Cuidar da aparência. Atender a mínimos detalhes. Isso fala de amor a si mesmo.
Também fala de estética, de beleza. Afinal, quem não aprecia um leve tom de beleza aqui e ali?
O mundo não dispensa a beleza, em lugar algum. Basta que observemos a prodigalidade da natureza: as flores que vestem de forma exuberante suas pétalas e folhas, em sinfonia de cores; as aves que se mostram, orgulhosas de sua caprichosa plumagem de arabescos múltiplos; a erva dos campos que balança verde e graciosa; os animais ferozes com suas listras, pintas, traçados diversos na pelagem curta ou longa.
Beleza, cuidados. Se o divino Pai cuida assim da erva do campo, das flores, dos animais, quanto mais não espera que nós, seus filhos, nos apresentemos à altura da sua filiação?
Filhos do Pai, zelemos pelo tesouro do nosso corpo e nos apresentemos sempre bem, à imagem e semelhança da grandeza do Celeste Dono Absoluto do Universo.
A lição do amor
Muitas obras já foram escritas a respeito do ódio entre pessoas, famílias ou comunidades.
A literatura celebrizou romances como Romeu e Julieta. A tragédia de um amor com o pano de fundo do ódio de duas famílias.
As telas cinematográficas e as novelas da televisão vitalizam com cores muito vivas dramas em que o ódio passa de geração a geração.
O que quer dizer que a criança, ao nascer, passa a ser alimentada com a informação da necessidade de odiar aquele ou aqueles que seus avós e pais odeiam.
Apesar de vivermos o início do Terceiro Milênio, tais fatos não se passam somente nos teatros, filmes ou novelas.
Observa-se que, no cotidiano, existe muito ódio sendo alimentado e transmitido de pai para filho.
Não é de se estranhar, assim, que haja tanta guerra, desentendimento, discórdia entre os povos. Pois tudo vem do berço.
Desde a gestação, o Espírito que anima o corpo do bebê em formação passa a ser sufocado com as emanações do ódio de que se nutrem os familiares. Pai e mãe em especial.
Seria tão mais digno dos que nos dizemos cristãos que, se não conseguimos perdoar o desafeto, não repassássemos aos nossos filhos tal problema.
Se a problemática é nossa, nós a devemos resolver e jamais passá-la adiante. Mesmo porque, na sequência do tempo, o que era motivo de ódio mortal se dilui.
Por vezes, até os que dizem odiar não recordam com exatidão porque assim procedem. E se desculpam dizendo que são motivos graves, de épocas anteriores à sua, que a questão é familiar etc.
Recentemente, pudemos observar um caso que nos emocionou. Um jovem de família abastada casou-se com uma jovem pobre e sem nome de família expressivo.
Contrariada, a mãe do rapaz o deserdou e ele partiu para outras paragens para refazer sua vida.
Construiu seu lar sobre bases de honestidade e trabalho e repassou tais valores para sua filha. Morrendo muito jovem, deixou a viúva com poucos recursos.
Ela, por sua vez, não se intimidou. Trabalhou e educou a filha.
Certo dia, a avó as procurou desejando ver a neta. Receosa, temia que a nora houvesse envenenado a menina contra ela. Qual não foi sua surpresa ao ser abraçada pela neta de oito anos, e ouvir da sua boca:
Vovó, que bom que a senhora veio! Queria tanto conhecer você. Minha mãe sempre diz que a senhora é uma pessoa muito boa, como meu pai.
Durante anos, a mãe simplesmente passara para a garota a lição do amor, consciente de que as questões que diziam respeito a ela e seu marido não deveriam prosseguir no tempo.
A lição de amor comoveu a velha avó, que retornou ao seu lar após a visita, para repensar a própria atitude.
* * *
Você sabia?
Você sabia que os pais são responsáveis pelos Espíritos dos filhos?
Assim, se eles vierem a falir, por culpa dos pais, esses terão que prestar contas a Deus.
E você sabia que a maternidade e a paternidade são das missões mais grandiosas que Deus confia aos homens?
Por isso vale a pena empregar todos os esforços para merecer a confiança do Criador.
Acidentes de trânsito
O número de acidentes de trânsito tem sido gritante. Mal desperta o dia e as notícias pululam, dando-nos ciência dos vários que já aconteceram.
No quadro de tanta tragédia, o que estarrece é que expressivo número deles tem vitimado a juventude.
A juventude que deixa para trás uma existência cheia de promessas de aprimoramento e de libertação positiva.
São muitas as lágrimas vertidas sobre os caixões desses corpos jovens. Lágrimas de pais em desconsolo, noivos em desespero, irmãos sem poder entender o drama.
Num primeiro momento, buscam-se respostas. Por que tão jovem? Por que tão bruscamente?
E elas quase sempre apontam o pensamento simplista de que tudo acontece porque está escrito.
Era o destino daquelas criaturas romper os vínculos da reencarnação dessa forma violenta.
No entanto, isso não é totalmente verdadeiro.
Porque há os que se acidentam por estarem embriagados. Outros, por perderem o controle graças à atuação de substâncias químicas.
Outros mais, por se deixarem empolgar pelo excesso de velocidade, desatentos às limitações do conjunto de engrenagens mecânicas que têm sob seu comando.
Vários se atiram em manobras arriscadas, em nome do espírito de aventura, ou por mero exibicionismo.
Como se vê, não está tudo escrito. O homem constrói o seu dia, utilizando o seu livre-arbítrio, a sua vontade.
Dessa forma, nos compete dirigir com prudência. Não transformarmos a nossa viagem de lazer ou de negócios, em uma tragédia de sombras.
Conduzir a moto ou o carro que o progresso terreno nos confiou, com cuidado.
Não tornarmos nosso veículo uma arma letal.
Em qualquer faixa de idade em que nos encontremos, evitemos promover acidentes pelas estradas.
Busquemos, no respeito às normas de trânsito, a garantia para a nossa tranquilidade íntima. Para que não soframos remorso no amanhã.
Recusemo-nos adotar comportamentos que ponham em risco a nossa vida e as dos que trafegam pelas mesmas vias.
Assim, se viermos a nos envolver em algum acidente, saberemos que não o provocamos.
E estaremos em paz porque não fomos instrumento de resgate alheio. Nem plantamos dores em nenhum coração.
Examinemos prudentemente os nossos impulsos, toda vez que nos encontremos dirigindo qualquer veículo.
Antes de assumirmos a direção, antes de transitarmos pelas ruas ou estradas, paremos um instante.
Dirijamos nosso pensamento ao Senhor da Vida. Entreguemo-nos a Ele com o vigor da nossa sinceridade.
Depois, sigamos confiantes para os nossos destinos.
Se nas rodovias encontrarmos acidentes, oremos pelos envolvidos.
Pelos que provocaram a tragédia. Pelos que foram vitimados. Pelos familiares que sofrem profundo choque emocional de demorada recuperação.
Se formos surpreendidos com a morte dos nossos amores, não reclamemos de Deus.
Não nos desesperemos. Busquemos a prece uma vez mais e adquiramos serenidade na aceitação.
Nada que façamos ou digamos os fará retornar ao corpo físico que acabaram de abandonar.
No entanto, poderemos nos encontrar com eles toda vez que sonharmos, que pensarmos neles ou que a Deus entregarmos o nosso coração em preces.
Quem está ao nosso lado?
Nesta vida de tantos afazeres, tão corrida, que nos obriga a sermos multifuncionais, paramos para pensar que existe vida além da nossa?
Parece uma afirmação óbvia, desnecessária, mas observemos com um pouco mais de cuidado.
Costumamos ter tempo para os outros? Para os que não são tão próximos, para os colegas, para aqueles que fazem parte do nosso dia a dia, de uma forma indireta?
Quem são esses? São aqueles com os quais cruzamos vez ou outra, companheiros de trabalho com quem trocamos breves palavras, serviçais, funcionários, colegas.
São esses rostos quase anônimos que passam por nós vez ou outra, quase invisíveis.
Quem são eles? De onde vêm? O que precisam? Que vida têm? Que histórias trazem? Será que precisam de ajuda?
Pois é... Não temos como saber pois, na maioria das vezes, não temos tempo, não damos atenção, não nos importamos.
Mas, e se pudéssemos fazer algo importante por uma dessas pessoas? Se pudermos ser úteis, de uma forma que nem imaginamos? Nunca saberemos se não nos aproximarmos.
Observemos. Eles nos dão sinais. Às vezes, pedem ajuda sem pedir. Às vezes, precisamos dar um passo, deixando a timidez de lado e perguntar: Você está bem? Quer conversar?
Ou, sabendo que aquela pessoa está passando por uma fase difícil, entregar-lhe um singelo presente, uma mensagem, um livro, um CD.
Pronto. Por vezes, era tudo que ela precisava. E foi nossa sensibilidade que percebeu.
Porém, só conseguimos captar esse tipo de necessidade, essas nuances dos sentimentos dos outros, se estivermos atentos, se nos importarmos.
Se estamos sufocados em nosso mundo, preocupados apenas em resolver os nossos problemas, achando que eles são os únicos e os mais graves da face da Terra, ficará muito difícil enxergarmos essas vidas ao nosso lado.
Elas se tornam praticamente invisíveis.
Contudo, quando começamos a perceber o outro, a nos interessar pela sua vida, algo surpreendente acontece, algo só explicável pelas linhas sublimes da lei do amor.
Nossas dores, nossas preocupações, passam a pesar menos. Por vezes, as respostas que precisávamos chegam através de caminhos que não imaginávamos; as lágrimas que enxugamos ali, também são enxugadas aqui...
Tornamo-nos úteis. Não que nossa vida não tenha nobre utilidade no Universo, mas, nesses momentos, ela ganha um brilho a mais como mãos do Criador atuando na Terra.
Dessa forma, percebamos melhor quem está ao nosso lado. Quem precisa de colo, de umas breves palavras, quem precisa falar um pouco, quem necessita de alguém gentil.
Existem pessoas que são tão maltratadas em suas vidas, em seus ambientes de trabalho, em suas famílias, que tudo que necessitam é um pouco de gentiliza, atenção. Precisam saber que o mundo não está contra elas.
* * *
Sejamos uma mensagem de benevolência.
Quanta honra poder ser porta-voz da bondade num mundo que ainda está aprendendo a trabalhar junto, a trabalhar em cooperação.
Sejamos aqueles que nos importamos. A pressão do mundo não é mais forte do que nós. Somos donos de nosso destino e da nossa vontade.
O mundo muda, o mundo acaba. Nós, porém, assim como o amor, permanecemos.
A feliz aposentadoria
Nos primeiros anos do Século XX, era comum verdureiros percorrerem as ruas das cidades ofertando os seus produtos, diariamente.
Na cidade de Matão, no interior do Estado de São Paulo, havia um desses que, todas as manhãs, transitava com sua carroça cheia de legumes, verduras e frutas.
Certo dia, ele parou em frente à uma farmácia. Estacionou sua carroça e entrou para comprar um medicamento.
Enquanto era atendido, o dono da farmácia, homem bom, foi até a porta e ficou olhando para o animal atrelado à carroça.
Era um burro velho, maltratado, magro que, muito ofegante, suportava parado o peso enorme do veículo de madeira e das mercadorias. Tinha um aspecto feio.
Notava-se, de longe, que tudo aquilo era demais para ele. Não tinha mais condições de continuar naquele trabalho.
Quando o verdureiro saiu da farmácia, viu o proprietário parado à porta e o cumprimentou:
Olá, senhor Cairbar, tudo bem?
E recebeu, de retorno, uma proposta: O senhor quer me vender o seu burro?
Claro que não, foi a resposta pronta. Preciso dele para me levar, com toda a mercadoria, de um lado a outro da cidade.
Cairbar voltou a insistir: Diga o preço. Quem sabe, faremos um bom negócio.
O verdureiro continuou argumentando que não venderia o animal. Mas Cairbar insistiu e insistiu, até que ele resolveu dar um preço: uma quantia muitas vezes acima do valor real. Era para não vender.
No entanto, Cairbar olhou para o burro, que continuava ofegante, foi para o interior da farmácia, pegou o dinheiro na gaveta e entregou ao dono do animal.
Agora, ele é meu, falou. Pode levar a carroça para casa e depois me traga o burro.
O homem ficou assustado. Olhou para a soma que recebera. Era o suficiente para comprar cinco animais e melhores do que aquele.
Agradeceu e se foi rapidamente. Voltou mais tarde, puxando o burrinho por um pedaço de corda e o entregou ao novo dono.
Cairbar afagou o animal, levou-o devagar para um pasto próximo e o soltou.
A notícia se espalhou pela cidade. Quando os amigos souberam, foram perguntar para que ele queria um animal velho, maltratado, quase morrendo.
E ele respondeu, de forma natural:
Não preciso do animal para nada. Está aposentado. Vai viver seus últimos dias usufruindo desse direito. Merece porque está velho e já trabalhou muito.
E o velho burro viveu sua aposentadoria no pasto, solto. Tudo graças a quem teve olhos de ver e tinha um nobre coração.
* * *
Os animais nos merecem cuidados. Eles nos servem de muitas maneiras e é nossa responsabilidade atendê-los em suas necessidades.
Nas suas enfermidades, necessário que lhes providenciemos os cuidados adequados: a medicação, a cirurgia, os curativos.
E, quando velhos, cansados, aguardam que lhes respeitemos os anos de dedicação que nos ofereceram, seja como animais de estimação ou de outra forma.
Pensemos neles como queridos amigos ou velhos servidores e lhes retribuamos o que nos ofertaram por dias, meses ou anos com carinho, atenção, medicação, cuidados.
A lição do jardineiro
Um dia, o executivo de uma grande empresa contratou, pelo telefone, um jardineiro autônomo para fazer a manutenção do seu jardim.
Chegando em casa, verificou que se tratava apenas de um garoto de uns quinze ou dezesseis anos de idade. Contudo, como já estava contratado, pediu para que ele executasse o serviço.
Quando terminou, o jovem lhe solicitou permissão para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir trechos do diálogo que aconteceu.
O garoto ligou para uma mulher e perguntou:
A senhora está precisando de um jardineiro?
Não. Eu já tenho um, foi a resposta.
Mas, além de aparar a grama, frisou ele, eu também tiro o lixo.
Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O meu jardineiro também faz isso.
O garoto insistiu: Eu limpo e lubrifico todas as ferramentas no final do serviço.
O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora.
Eu faço a programação de atendimento o mais rápido possível.
Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente. Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa. Vem sempre no dia que agendamos previamente.
Numa última tentativa, o menino arriscou: O meu preço é um dos melhores.
Não, disse firme a voz ao telefone. Muito obrigada! Tenho certeza de que o preço do meu jardineiro é muito bom. Não preciso de nenhuma outra oferta.
Desligado o telefone, o executivo disse ao garoto:
Meu rapaz, pelo que pude deduzir da sua conversa com essa pessoa, você perdeu um cliente.
Claro que não, foi a resposta rápida. Eu sou o jardineiro dela. Fiz isso apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo.
* * *
Em se falando do jardim das afeições, quantos de nós teríamos a coragem de fazer uma pesquisa semelhante a desse jardineiro?
E, se fizéssemos, qual seria o resultado? Será que alcançaríamos o grau de satisfação daquela cliente?
O que diriam a respeito da nossa forma de expressar sentimentos?
Poderiam dizer que temos, sempre em tempo oportuno e preciso, aparado as arestas dos azedumes e dos pequenos mal-entendidos?
Diriam que temos deixado acumular muito lixo de mágoas e de indiferença nos canteiros onde deveriam se concentrar as flores da afeição mais pura?
Diriam que temos deixado enferrujar as ferramentas da gentileza, da simpatia, esquecidos de lubrificá-las com pequenos gestos, um sorriso, atendendo as necessidades e carências desses que conosco convivem?
E, por fim, qual tem sido o nosso preço? Temos usado chantagem, autoritarismo ou, como o jardineiro sábio, temos cuidado das mudinhas das afeições com carinho e as deixamos florescer, sem sufocá-las?
* * *
O amor floresce nos pequenos detalhes. Como gotas de chuva que umedecem o solo ou como o sol abundante que se faz generoso, distribuindo seu calor.
A gentileza, a simpatia, o respeito são detalhes de suma importância para que a florescência do amor seja plena e frutifique em felicidade.
Pensemos nisso.
Um Brasil de muitas cores
Quero meu Brasil verde e amarelo. Verde de esperança de ver seus filhos progredirem em seu solo. De vê-los crescer em tecnologia, de programarem o futuro, com alegria.
Esperança de ver seus filhos conquistando o mundo, dizendo do quão grande e rica é esta nação de tantas raças.
Esperança de ver as crianças na escola, ilustrando as mentes e exercitando o respeito pelos professores, pelos colegas.
Esperança de despertar nas manhãs com o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhando nas praças tomadas pelas gentes em passeios, exercícios, caminhadas.
Verde que assinale a proliferação das matas conservadas e respeitadas, onde vivam em abundância a fauna e a flora diversificadas.
Onde o colorido das aves acrescente mais beleza ao panorama e os cantos diversos encham os ares de sinfonias.
Esperança de que as espécies se multipliquem de forma natural, sem a ação predatória do homem insano e irreverente.
Que as aves possam construir seus ninhos no alto das árvores, sem temor de os verem destroçados pela cobiça dos que somente desejam ter suas próprias posses aumentadas.
Quero meu Brasil com o amarelo deslumbrante do astro rei nos céus.
Também como símbolo de riqueza nacional, sem agressão ao solo nem aos seus filhos, cujas vidas são mais preciosas do que qualquer minério ou pedra de qualidade.
Amarelo que tremule na bandeira nacional, atestando da nossa soberania, do respeito ao torrão pátrio pelos que aqui vivemos, como seus filhos, sem exploradores vindos de outras bandas.
Desejo um Brasil também azul e branco.
Azul da cor do céu que se apresenta maravilhoso de norte a sul, com variantes excepcionais, somente dignas de um Criador, infinito em Sua criatividade.
Azul da cor das águas dos rios sem poluição, sem detritos, correndo livremente.
Rios que atravessem as artérias do território cantando a independência de um povo que deseja Ordem e Progresso.
Um povo que não quer ser subjugado, que deseja trabalhar de forma honrada a fim de assegurar o pão nosso de cada dia na própria mesa.
Um povo que deseja um lar, uma família, leis justas para lhe garantir a propriedade, o emprego, o ensino.
Um povo que não alimenta preconceito, que respeita seu irmão, não importando a cor da pele, a configuração dos olhos ou das maçãs do rosto.
Um povo que ama a liberdade, que tem o samba no pé e os versos do hino pátrio no coração.
Finalmente, um Brasil de paz. Paz no coração das gentes, que somente anseiam estudar, construir, progredir.
Um Brasil de paz que seja exemplo para o mundo. Um Brasil em que todos se abracem como irmãos e desejem se auxiliar no combate à miséria, à fome, à injustiça.
Um Brasil em que todos sejam iguais perante a lei, perante a sociedade, perante a escola.
Um Brasil verde, amarelo, azul e branco. Este é o Brasil que todos desejamos.
Um Brasil para ter filhos e vê-los crescer, livres da violência e das drogas. Filhos que se tornem cidadãos produtivos e nobres.
Um Brasil que todos juntos podemos construir, desde agora.
Mãos à obra. O tempo urge. O dia é hoje.
Quando nossos pais envelhecem
Quando somos crianças, olhamos para nossos pais como criaturas especiais, invencíveis.
Eles podem tudo, desde consertar o carrinho quebrado a resolver aquele problema de matemática super difícil para nossas cabeças.
Eles não cansam. Trabalham o dia todo, vêm para casa e ainda têm disposição para verificar se fizemos a lição, se tomamos banho direitinho, se demos comida ao cão.
Jantam conosco, conversam, veem televisão, insistem para que estudemos um pouco mais para a prova do dia seguinte.
Verificam se escovamos bem os dentes, antes de dormir, e fazem oração conosco, antes que o sono nos assalte.
Nunca ficam doentes. Ou melhor, de vez em quando eles têm gripe, um pouco de tosse, dizem que dói o corpo. Mas não é nada.
Logo estão de pé, continuando a rotina.
Quem fica doente mesmo somos nós: febre, dor de garganta, dor de dente, dor de cabeça. Sintomas que sempre os preocupam e os fazem buscar o médico, o hospital.
E providenciam remédio, dieta, cuidados de toda sorte. Ficam acordados à noite e na madrugada para verem se nossa febre diminuiu, se estamos melhorando, se...
Mas os anos vão se somando e um dia nos descobrimos adultos, maduros.
Então, se como pais, assumimos muitas responsabilidades, cuidando de nossos pequenos, vamos nos dando conta, a pouco e pouco, que os nossos pais vão envelhecendo.
É o momento em que nós, os filhos, é que vivemos em sobressalto. Tudo nos preocupa.
Uma simples tosse deles nos impressiona. Será alguma doença grave que irá se apresentar? Será que estão tomando de forma correta os medicamentos?
Tudo, em verdade, assume gravidade aos nossos olhos. O esquecimento de um compromisso é sintoma que nos deixa em alerta.
Será um sinal de Alzheimer?
O passo lento estará a dizer que começam a ter limitações físicas?
E vamos nos esquecendo, nessas nossas preocupações, que eles não precisam viver acelerados porque já fizeram muito.
Não precisam obedecer a horários rígidos. Podem ir dormir mais cedo ou mais tarde ou levantar quando queiram.
Eles podem dar um passeio muito calmo pela praça, sem precisar correr atrás da criançada.
Podem apreciar a paisagem, com calma, dar-se conta da flor que despertou no jardim, sem precisarem se preocupar em saber onde se meteram, afinal, as crianças.
Sim, alguns sintomas são fruto da idade. Ou sinais de eventuais enfermidades que pedem atenção e cuidados.
Mas, de outras e muitas vezes, são somente nossos queridos pais envelhecendo, docemente.
E o que mais precisam é de nosso carinho, não da nossa angústia.
É da nossa naturalidade em deixá-los andar no seu passo, na sua hora.
É entender que, por vezes, não estão com disposição para sair, nos acompanhar ao clube, à temporada de praia.
É acompanhá-los ao cinema, ao teatro. E não levar à conta de sentimentalismo se choram em cenas para nós sem maior importância.
Enfim, importante desfrutar, inteiramente, intensamente, cada minuto ao lado deles, enquanto Deus nos permite tê-los conosco, aqui, na Terra.
Ter em mente que o tempo deles é diferente do nosso. Da mesma forma que para nossos filhos o tempo difere das nossas próprias horas.
Pensemos nisso.
Progredir moralmente
Todo o viver é um exercício de aprendizagem. E a vida será sempre rica de oportunidades para que a alma se enriqueça no saber das coisas de Deus.
A oportunidade do estudo, de desenvolver-se intelectualmente é possibilidade de alcançar conhecimento das leis do mundo físico, obra de Deus.
Estudar botânica, química ou astronomia, seja qual for o ramo das ciências, é sempre uma oportunidade de progredir intelectualmente, de aumentar o entendimento a respeito das leis do Criador.
E é claro que quanto mais estudamos, mais progredimos intelectualmente.
Porém, a vida também é rica de oportunidades para que cresçamos moralmente, para que possamos entender as coisas de Deus no campo da moral.
Assim como podemos crescer intelectualmente durante uma vida, podemos progredir moralmente.
Sabendo-se que moral é a regra de bem proceder, a regra de agir conforme as leis de Deus, será o entendimento dessas regras, pelas vias do coração a grande conquista para todos nós.
Logo, é natural que a vida oportunize também esse aprendizado, que nos possibilita crescer moralmente.
Se o progresso intelectual se dá pelos bancos da Academia, pelos livros, pelo exercício da mente e do raciocínio, o progresso moral se dá pelo enfrentamento do mundo, nos desafios de relacionamento com o próximo e conosco mesmos.
Sempre que nos deparamos com um parente difícil, é oportunidade de progresso moral, ao desenvolver a paciência e a indulgência.
Se o chefe irascível é nossa grande dificuldade, ou o ambiente de trabalho desequilibrador, que nos consome em preocupações, serão essas também oportunidades de desenvolvermos valores de paciente coleguismo.
Se situações difíceis da corrupção e do afrouxamento dos valores morais sucederem sob nossos olhos, ser-nos-ão convite ao exercício da retidão de caráter e da consolidação da honestidade.
Nenhuma situação que nos ocorra será descuido da Providência divina ou cochilo de nossos anjos tutelares.
Tudo está previsto pelo amor de Deus, a proporcionar as situações mais adequadas para que possamos progredir, intelectual e moralmente.
Dessa forma, jamais desejemos uma vida tranquila, sem desafios e dificuldades a transpor.
Essa vida que muitos desejam, e não poucos se esforçam para assim viver, consome-se no vazio de si mesma, pela falta do objetivo maior, que é o progresso do ser humano.
Jamais devemos malquerer os dias desafiadores. Serão sempre esses os que provocarão em nós o crescimento de novas capacidades, o amadurecimento moral, o despertar para valores mais sólidos e perenes em relação à vida.
Nunca deveremos nos esquecer que Deus nos proporciona penas e desafios somente na intensidade e no montante que nossa estrutura emocional será capaz de enfrentar.
Voltar a nascer
Você acredita em reencarnação? Acredita que alguém que tenha morrido possa retornar a viver, em outro corpo?
Acha que isso tudo é somente uma grande fantasia, excelente para enredo de filmes, matéria literária para encher páginas e mais páginas de revistas?
Talvez algo sensacional para títulos de manchetes?
Pois aquela senhora de oitenta e seis anos cultivava as saudades do seu irmão há mais de seis décadas, quando um casal entrou em contato com ela.
A princípio, de forma muito prudente, como a sondar seus sentimentos e depois, revelando enfim, que o filho deles dizia ter sido irmão dela.
Anne Barron lembrava de que no dia 3 de março de 1945, estava em sua sala de estar, fazendo a limpeza.
Estava ansiosa porque toda a família iria se reunir em sua casa para aguardar, em breves dias, o retorno do irmão.
Então, ela sentiu como se ele estivesse ali, ao lado dela. E falaram e falaram. Eram muito ligados.
A reunião nunca aconteceu porque James foi dado como desaparecido em uma missão, como piloto.
O dia em que desaparecera? 3 de março.
Agora, um menino de cinco anos estava ao telefone, para falar com ela. Ele a chamou de Annie.
Ela estremeceu. Somente seu irmão a chamava dessa forma. A conversa foi muito interessante.
O garoto tinha conhecimento de muitas coisas da família. Referia-se ao pai e à mãe de ambos como um irmão faria.
Ele se lembrava, com riqueza de detalhes, do alcoolismo do pai; de que uma outra irmã, de nome Ruth, tinha sido colunista social de um jornal da cidade.
A quantidade de minúcias da família sobre as quais conversavam Anne e o novo James era impressionante.
Outras ligações telefônicas se sucederam e, com o tempo, quaisquer dúvidas foram eliminadas da mente de Anne. Aquele era seu irmão, que voltara a viver, em outro corpo.
Então, ela resolveu mandar para a cidade onde ele morava, um presente.
Era um quadro que a mãe deles havia pintado do filho quando ele era criança.
Quando o recebeu, a primeira pergunta do pequeno a Anne foi: E onde está o quadro que ela pintou de você?
Anne ficou sem fôlego. Apenas ela sabia que sua mãe pintara dois retratos: seu e de seu irmão.
O retrato de Anne estava no sótão. Ninguém no mundo sabia disso. Ninguém, a não ser ela.
A cada vez que com ele falava ao telefone, ela tinha mais certeza: aquele garoto era um Espírito familiar.
Quando o ouvia, ela não podia deixar de reconhecer que era o Espírito do seu irmão, morto na guerra, que voltara.
Quando se encontraram, pela primeira vez, face a face, ele a olhou atentamente.
Quieto, ele a ficou examinando com o olhar, avaliando. Algo como se estivesse tentando encontrar o rosto da irmã de vinte e quatro anos na mulher de agora oitenta e seis. Ela envelhecera. Ele renascera.
Não demorou muito e conversavam, de forma natural, com afetividade, identificando-se um com o outro.
* * *
A reencarnação é lei natural e todos os Espíritos a ela se submetem, até alcançar a perfeição.
Foi isso que Jesus ensinou ao falar a Nicodemos: Em verdade, em verdade te digo: ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.
O que chamamos ao próprio coração
Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos, chegou, certo dia, aos pés de Jesus, e lhe confessou estranhos pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia despojado vários amigos de suas terras e bens, levando-os à ruína total e reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro.
Com maldade premeditada, semeara em muitos corações o desespero, a aflição e a morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado...
Médicos não lhe solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam nos profundos labirintos da consciência dilacerada.
O Mestre divino, ali mesmo, na casa de Simão Pedro, onde se encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse:
Vai em paz e não peques mais.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrava o corpo, sentindo-se curado. Saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz quando, ao atravessar a extensa fila dos sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo, sem querer, pisou-lhe num dos calos que trazia nos pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o mendigo a bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.
Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.
Contemplando a vítima em sangue, abeirou-se do ofensor e falou:
Depois de receberes o perdão, em nome de Deus, para tantas faltas, não pudeste desculpar a ligeira precipitação de um companheiro mais desventurado que tu?
O velho judeu, muito pálido, pôs as mãos sobre o peito e gritou:
Mestre, socorre-me!... Sinto-me desfalecer de novo... Que será isso?
Mas Jesus respondeu, muito triste:
Isso, meu irmão, é o ódio e a cólera que outra vez chamaste ao próprio coração.
* * *
O que temos chamado ao nosso coração através dos pensamentos, sentimentos e ações?
Imaginemos que a soma de tudo isso, ao longo dos meses, dos anos, é responsável por nossa saúde integral. Dependendo do teor, do tom das vibrações, produzimos para nós mesmos o bem-estar ou a enfermidade.
Hoje, é muito fácil entender que a mágoa, a cólera e a tristeza continuada produzem doença, e que o bom humor, a alegria, o otimismo e a caridade geram saúde.
Como anda essa composição em nossa alma e em nosso corpo?
Chamar o ódio e a cólera ao coração é escolher o sofrimento voluntariamente. É optar pelo caminho da enfermidade, que pode surgir a qualquer momento, em qualquer lugar do corpo ou da mente.
Sentimos muito, lamentamos, quando ela surge no melhor momento da vida, quando estamos numa época feliz, abraçados com a família ou bem resolvidos profissionalmente.
É que fomos invigilantes no passado, essa a verdade, e agora as leis naturais nos mostram as simples consequências.
Assim, vale a vigilância constante, proposta pela lição do Mestre, para que não deixemos que outra vez e outra vez o ódio e a cólera sejam chamados ao nosso coração.
A doença não desaparece enquanto o doente não se transforma.
Pensemos a respeito e modifiquemos nossa forma de agir.
quarta-feira, 20 de março de 2019
Mãos Ocupadas
Mãos ocupadas
Em um grande shopping center, uma criança resolveu fazer uma brincadeira singela com as pessoas que passavam.
Sentada em um carrinho de passeio, esticava um dos braços tentando alcançar as mãos de quem vinha no outro sentido, propondo um cumprimento rápido.
Bastaria que o estranho tocasse numa das palmas que ela estaria satisfeita.
E lá foi ela, mergulhada na multidão, no andar de baixo das pessoas, alegre e empolgada.
Começou a ver que alguns desviavam, outros tinham receio, outros nem sequer a enxergavam, pois estavam numa espécie deandar de cima do mundo. E a maioria deles estava com as mãos ocupadas.
Não sobraram mãos para mim! – Deve ter pensado.
As mãos estavam nas muitas sacolas, nas bolsas, nos smartphones, mas nunca livres...
Levou quase cinco minutos para ela conseguir seu primeiro cumprimento cordial.
Ali, do andar de baixo do mundo, ela percebia, desde cedo, como o pessoal do andar de cima, andava ocupado demais...
* * *
E nossas mãos, como estão?
Ainda existe algum momento em que estejam livres para alguém mais?
Ainda existe disposição para uma tarefa extra, descomprometida, voluntária, quem sabe?
Mesmo dentro de casa, nos afazeres diários, como temos usado nossas mãos?
Ainda lembramos da sensação dos cabelos dos nossos filhos escorrendo pelos dedos? Lembramos da delicadeza e da maciez dos fios?
Ainda lembramos da temperatura ou da textura da pele do nosso amor, sentida pela parte superior dos dedos?
Ainda nos recordamos do aperto de mão firme ou frágil daqueles que não estão mais por perto?
Benditas sejam as mãos...
Quantas energias fluem através delas! Quantos fluidos benéficos podem ser canalizados através de sua ação dignificante.
As mãos de Jesus estavam sempre livres e disponíveis para quem quer que chegasse até ele.
Os episódios de imposição de mãos são incontáveis, quando, através de uma transmissão fluídica poderosa, ele curava, despertava, enfim, alterava o curso da existência daquela alma que o buscava com fé.
Em alguns casos, ele apenas erguia alguém que estava caído, num ato simbólico que representava o que realmente estava ocorrendo com o Espírito até então em situação deplorável.
Teve olhos inclusive para as criancinhas que, na época, nem mesmo eram contadas nos censos, assim como as mulheres:
Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.
Jesus tinha sempre as mãos livres. E nós? Será que não poderíamos nos doar um pouco mais? Será que não poderíamos atender, de alguma forma, os que estão ao nosso lado?
Será que, se passássemos por aquela menina com a mãozinha espalmada, aguardando um toque humano, nós a teríamos visto? Ou andaremos olhando muito para cima, nunca para nosso entorno?
Às vezes estamos vivendo essa ilusão de mundo, numa espécie de andar de cima, deixando de perceber o que ocorre nos outros andares da vida.
Passam por nós diversas mãos, pedindo auxílio, carinho, atenção, mas as nossas estão sempre ocupadas, sempre segurando coisas que, talvez, não sejam tão importantes assim...
Pensemos a respeito. E nos observemos um pouco mais. Quem sabe, até mudemos as nossas atitudes...
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