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sábado, 6 de novembro de 2010

O bom e o melhor

Para pensarmos um pouco sobre onde queremos chegar!

 

Leila Ferreira é uma jornalista mineira

com mestrado em Letras e doutora

em Comunicação, em Londres.

Apesar disso, optou por viver uma vidinha

mais simples, em Belo Horizonte...

 
"Estamos obcecados com "o melhor".

Não sei quando foi que começou essa mania, mas

hoje só queremos saber do "melhor".

 
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro,

o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor

operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.

 
Bom não basta.

 
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os

outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes,

porque, afinal, estamos com "o melhor".

 
Isso até que outro "melhor" apareça -

e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.

 
Novas marcas surgem a todo instante.

Novas possibilidades também. E o que era melhor,

de repente, nos parece superado, modesto, aquém

do que podemos ter.

 
O que acontece, quando só queremos o melhor,

é que passamos a viver inquietos, numa espécie

de insatisfação permanente, num eterno desassossego.
 

Não desfrutamos do que temos ou conquistamos,

porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.

 
Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.

Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os

outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor,

comprando melhor, amando melhor, ganhando

melhores salários.

 
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás,

de preferência com o melhor tênis.

 
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos.

Mas o menos, às vezes, é mais

do que suficiente.
 

Se não dirijo a 140, preciso

realmente de um carro com tanta potência?

 
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que

subir na empresa e assumir o cargo de chefia que

vai me matar de estresse porque é o melhor cargo

da empresa?

 
E aquela TV de não sei quantas

polegadas que acabou com o espaço do meu quarto?

 
O restaurante onde sinto saudades da comida de

casa e vou porque tem o "melhor chef"?

 
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado

porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro?

 
O cabeleireiro do meu bairro tem

mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?

 
Tenho pensado no quanto essa busca

permanente do melhor tem nos deixado

ansiosos e nos impedido de desfrutar o

"bom" que já temos.


 
A casa que é pequena, mas nos acolhe.

 
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.

 
A TV que está velha, mas nunca deu defeito.

 
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos

faz mais felizes do que os homens "perfeitos".


As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu,

mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo.

 
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas

das histórias que me constituem.

 
O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e

sente prazer.

 
Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso?

 
Ou será que isso já é o melhor e na

busca do "melhor" a gente nem percebeu?"